sexta-feira, agosto 17, 2007

Morangos verdes fritos


Os morangos vermelhíssimos contemplavam a rua numa alegria tão enorme que, premidos em sua bandeja de plástico, pareciam ter nascido ali mesmo. Tinham um olhar de sapiência que até em mim me pareceria estranhamente raro. O papel transparente privava-lhes da brisa seca do inverno, ou de um contato mais direto com o sol, mas a plaquinha, com solenidade japonesa, anunciava ainda seu destino horrível: morangos orgânicos por 3 reais. A vendedora assegurou, com uma expressão muito de virgem, que estes eram muito doces, "você nem vai precisar de creme". Creme seria a última coisa que eu jogaria em morangos, pensei assustado, Já que costumo cobri-los com granola, ou mel. Alimentos assim vermelhíssimos costumam vir cheios de agrotóxicos: morangos, tomates, mamilos, lábios e vaginas; então é bom quando os há orgânicos. Mamilos são mamãos pequenos como jabuticabas, lábios são cítricos, meio que ardem e nos fazem fechar os olhos, vaginas são, bem. [Insira aqui sua descrição sensual para vaginas]. Pois bem, até estes morangos eram iguais aos outros, e iguais às outras coisas prazerosas no mundo, vermelhíssimos, era o que eu dizia, mas clarinhos por dentro, quase brancos. Porque quase brancos são os sorrisos, os dentes, a amizade e o amor, os afagos no cabelo, os perfumes onipresentes, e o olhar amistoso dos grandes cães. A natureza sabe o que faz.

4 comentários:

Anônimo disse...

aham, tudo isso.

Unknown disse...

Sabe mesmo. =]
E que foto bonita...

Fernanda Passos disse...

Rsrsrsrs.
A natureza sabe tanto o que faz que fez vc pra descrevê-la.
Linda inspiração cotidiana.
A relação entre as frutas e as partes do corpo foi fantástica.
Bj.

Anônimo disse...

aham, tudo isso. [2]
hehehehe :]