quinta-feira, julho 23, 2009

Da criação do Universo e das eras

Havia Deus na era dos dinossauros?

No começo era o pó, o frio e a escuridão. Um silêncio de dar tédio. Foi então que Deus manejou com um grande braço seus escuros materiais, levando-os à borda do infinito a fim de dar a ele uma finitude, querendo criar um vendaval que, enfim, criou-se. Foi a invenção do Big Bang. Dele vieram galáxias dentro de galáxias, estrelas que explodiam, Sóis quentes e gelados que atraíam planetas para si e faziam tudo equilibrar numa complicada equação de forças e calores.

Havia ali no meio um planeta que as escrituras bem descreveram e do qual Deus quis ele mesmo, pessoalmente, encarregar-se. Chamava-se Terra e a obra começou quando ele dividiu o nada em duas partes, formando o céu e o chão onde iam pisar todas as mortais criaturas; no entanto a divisória ficou imperfeita e daí surgiram montanhas e vales grandiosos. "Não era para ser assim, mas está bom", disse Deus. Então Ele desenhou na superfície da Terra e daí nasceram a grama e as árvores, as plantas com seus frutos e os animais. As coisas eram tão bonitas e boas em si mesmas que não dependiam de mais ninguém para existir, nem mesmo Dele.

No último dia de criação, Deus fez pequenas criaturas que eram em sua imagem e semelhança como ele, portanto cheias de imperfeições. Deus ficou insatisfeito e guardou as criaturas em uma de suas gavetas. Tomado de exaustão, Deus dormiu e a Terra recém-criada pôde desenvolver-se; e as plantas e os animais cresceram e se tornaram coisas que ninguém sabe o que eram porque ninguém viu. Apenas uma delas tornou-se conhecida, eram os dinossauros e dominavam os céus, o chão e as águas; eram ferozes, gigantescos e em sua maioria velozes, e foi por sua astúcia que dominaram o planeta. No entanto tinham um cérebro pequeno e não se questionavam, não sentiam emoções e não se comunicavam senão por gritos horrendos e grunhidos de fome, não se perguntavam sobre a criação e sobre Deus, que dormia.

Até que um dia, Deus acordou e verificou que os dinossauros nada faziam; eles não mudavam porque não se questionavam, não afrontavam Sua existência e pareciam sempre satisfeitos. Foi aí que Deus quis recomeçar tudo, e tudo destruiu com um cometa que se chocou contra a Terra, fazendo as coisas virarem fumaça. Antes de redesenhá-las, porém, Deus cochilou novamente, mas se levantou rápido e, quando viu, as criaturas semelhantes a ele, que estavam presas na gaveta, de um modo conseguiram escapar e já estavam lá embaixo na Terra, decididas a povoar a Criação.

Deus, que até então era tolerante com os erros, deixou as criaturas viverem no mundo, e viu que essas sim questionavam-se, sofriam, riam e choravam, e pareciam querer transformar as coisas porque havia algo que lhes era intrínseco e se chamava inteligência. Deus viu que não era mais necessário fazer nada por ali, e foi criar outros mundos.

baseado no anime haibane renmei

sábado, julho 04, 2009

Reservado

"Você é tão reservado".

A frase veio com tom de reprovação, como que proferida em hora e local indevidos, como que embasada num julgamento, num juízo de valor. Quase equivalente a um "você é tão esquisito". O sol das 17 horas banhava os degraus de um amarelo aconchegante, cálido, mas que naquele momento destoou completamente e pareceu até repulsivo. Balbuciei uma explicação que não saiu. Não há por que explicar-se, não há como fazê-lo; simplesmente é e pronto. Não vejo problemas em analisar as linhas da mão, as veias saltadas, as rugas dos outros, os motoristas em outros carros, os pássaros em suas árvores; não vejo problemas em pensar, pensar e pensar imergindo num fluxo tão grande de palavras e coisas que só me resta o silêncio para aquietar tudo isso. Não vejo por que não contemplar os passos nesses degraus banhados d'ouro, não vejo por que não olhar para trás e pensar "puxa, o sol das 17h é tão bonito", depois virar para frente e pensar que o silêncio é tão cheio de ideias.

"Você é tão reservado".