quinta-feira, abril 30, 2009

A gripe dos animais

A questão que inflama os debates referentes a vegetarianismo e onivorismo geralmente se centram no sofrimento dos animais, se animais sofrem ou não, se plantas sofrem ou não, se matar animais é o mesmo que matar plantas, se animais e plantas são o mesmo tipo de seres vivos etc. Outras questões igualmente ou mais importantes, e urgentes, tendem a ficar de fora das discussões: ecologia, desenvolvimento sustentável, derrubada de florestas para pastos, poluição da atmosfera pela indústria da carne, poluição da água pelas fezes dos animais, plantios de monoculturas extensivas (como a soja, que, ao contrário do que a maioria acredita, não é cultivada para alimentar vegetarianos, mas para alimentar gado, de corte, no exterior), desigualdade na distribuição de comida, consumismo, modos de vida, stress, obesidade, osteoporose, anemia.

E depois de tanto aquecimento global, de tanto encolhimento da Amazônia, de tantas doenças cardíacas e infâncias obesas, a humanidade é assombrada por mais uma praga: a gripe dos porcos. A OMS já mudou o nome para gripe A, porque "gripe dos porcos" acabou prejudicando o comércio de carne suína. Enfim, essa provável catástrofe não nos foi enviada por ninguém, porque dos castigos que temos que engolir bastam os que bastam, mas fornece elementos para observar a pandemia de outro lugar: o vírus dessa gripe, que surgiu de uma mutação entre o vírus da gripe humana, aviária e suína, pode ter encontrado nas grandes granjas um ambiente ideal para se proliferar. O que existe de mais propício para uma doença se alastrar, a não ser milhões de animais prensados num lugar úmido e quente, dopados de antibióticos e com um sistema imunológico fraquíssimo? Daí não vem só a carne que comemos.

Outras informações sobre este ponto de vista no blog do Saramago.


Foto de Deon.

domingo, abril 19, 2009

Silêncio



23h59 de um domingo e um estranho silêncio que não é a ausência de ruído, mas uma junção própria e bem saliente de ruídos que se fazem ouvir aqui e ali, primeiro o cooler do computador, palavra estrangeira para a qual não se encontram traduções exatas a não ser bizarrices como esfriador, e por isso cabe-se o neologismo; depois um batuque distante, seria uma cerimônia, um terreiro de macumba, uma festa...? Em seguida, o choro de um bebê. O arranque de um carro. Uma música. E ainda assim é isto o silêncio, um fenômeno que não é caracterizado pelo auditivo, mas sim pelo visual e pelo tátil, a noite escura e fria. Ademais os tímpanos nunca dormem.