terça-feira, maio 29, 2007

Beneplasto



Axila acordou sentindo uma imensa hermenêutica diatópica na cabeça. Axioma, seu irmão, descia de bunda a escada da sala. Todo dia um exercício novo.

-Axila, sua sovaca! - xingava a irmã, que procurava um beneplasto na privada da cozinha. Não achou.

-Axioma, cadê meu beneplasto?

-Só tem genérico, o beneplácito.

Axila, sem ler o logaritmo, ingeriu uma caixa de beneplácitos e teve uma acepção nervosa. Completamente possessa, defenestrou a epistemologia vazia, que atingiu o cocoruto de Axioma.

-Cuidado onde joga seus paquidermes! Fruta que caiu!

terça-feira, maio 08, 2007

Fluxo de consciência e as vendedoras do Credicard

Eu deveria estar estudando. E, na próxima vez em que minha mãe perguntar "o que você quer de aniversário?", eu respondo "um picolé de umbu". Melhor picolé que eu já comi na vida, ponto. De todo modo, o pátio (?) da universidade, mais uma vez, amarrota-se de vendedores de cartões de crédito. São mulheres, em sua maioria, todas enfiadas numa calça de tecido colante, que faz parte do uniforme. Elas vêm vez ou outra perturbar os juízos dos estudantes, interrompendo-os de hora em hora com a mesma pergunta, e o mesmo sorriso, e o mesmo uniforme. Tem sido assim desde a semana de 22.

Certa vez, uma delas bloqueou o caminho de um jovem que carregava uma mochila pesada, com aroma de ovo, e, incisiva, quase indecente, convidou: "vamos fazer seu cartão, chefia?". Chefia? "Não, já tenho o meu", o jovem respondeu, com a coluna arqueada por causa da mochila, desviando-se da vendedora e indo ao encontro de seu destino infeliz. A vendedora, cansada, quase revoltada, apelou para métodos menos cristãos e despiu-se das partes menos necessárias do uniforme, e, ao ritmo de uma música que ela mesma imaginou, provavelmente "Não Se Reprima", que a Xuxa cantava, dançou e vendeu mil cartões aos berros.

Desde então, a venda de cartões de crédito nunca mais foi a mesma. A vendedora também não, porque ganhou o prêmio de empreendedora do ano e agora mora na Polinésia, dando cursos, palestras e dirigindo seu próprio negócio de venda de cartões, que se mostrou altamente rentável.

E agora os estudantes podem caminhar em paz.
(eu deveria estar estudando)

sábado, maio 05, 2007

Baton


"Mãe, essa água é potável mesmo?"
- elefante de Tarzan.

A banquinha de doces do Sr. Manoel, ou Manô, como é carinhosamente conhecido entre os clientes mais íntimos, contém uma quantidade tão imensa de guloseimas e - perdão - de porcarias, que seria absolutamente impossível uma criança não parar para olhar (e fazer birra querendo algo, claro). Já não fossem as balinhas e os chocolates tão chamativos, envoltos em embalagens coloridíssimas, o Sr. Manuel - perdão: Manô -, naquele dia, gritava o lançamento de um novo produto. "Comprem aqui um delicioso baton sabor água!" Baton, para quem não conhece, é o famoso chocolate da Garoto, aquele em formato de bastão, em embalagem vermelha... Diz-se que outros batons já foram ao mercado, como o baton branco, que ainda se vende, baton cookies, baton sabor laranja, baton sabor UVA, baton sabor hortelã, baton-para-todos-os-gostos, enfim.

Talvez almejando uma fatia superseleta do mercado - os camelos sedentos do Saara -, a Garoto, estimulada pelas barraquinhas atraentes de todos os Manôs do país, lançou-se atrevida na fabricação dos deliciosos baton sabor água.

O polêmico baton sabor água vinha numa embalagem azul-calcinha, constratando com o ultrapassado baton ao leite, e custava R$0,25 a mais do que os outros baton. Um absurdo, diga-se, para um chocolate em cuja composição estrelavam, radiantes, os ingredientes mais normais: lecitina de soja, massa de cacau, manteiga de cacau, e... água (90% da composição, anunciava a embalagem, orgulhosa).

Água para dar e vender, pensei. Em tudo quanto é lugar, acrescentei mentalmente, enquanto usufruía do meu delicioso baton sabor água. Era horrível. Talvez contivesse água de bebedouro, água de torneira ("tap water", diriam os anglófonos), água de qualquer natureza não-potável. Assustador. Joguei o resto fora, no chão mesmo, porque, sendo 90% água, não faria de todo ruim.

O delicioso baton sabor água evaporou, ascendeu aos céus e viajou até a África, e choveu sobre as corcundas dos camelos sedentos do Saara, que eram, afinal, a porção de mercado almejada pela Garoto.

sexta-feira, maio 04, 2007



Querido blog,

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Hoje eu chorei feito um liqüidificador.

Obrigado.