sábado, outubro 28, 2006

Les cigales

As cigarras passam sete anos internadas sob a terra, matutando a si mesmas, e depois eclodem para a vida numa visita rápida ao mundo, onde berram,
berram,
berram,
berram,
porque é a única e a última coisa que farão. Depois, elas morrem. Deixam as cascas.

Eu passarei sabe-se lá quanto tempo internado em mim mesmo antes de sair para o mundo, onde me recobrirá uma vontade grande de amar,
amar,
amar,
amar,
que no fim será minha única tarefa, e eu morrerei sorrindo, os pregos enterrando, ainda a perguntar, internamente, se amei correto. Deixarei as cascas.

terça-feira, outubro 10, 2006

Nestas paredes em que nada há...


Essas paredes rosas-quase-brancas bem que poderiam ser mais fortes e genuínas, marrons ou verdes, ou azuis, ou pretas. Seria bom que eu tivesse paredes marrons - não várias, uma já bastava. Eu chegaria muito cansado dos vários lugares e escreveria nelas com uma tinta mágica que ficaria lá para sempre, ou até o tempo que eu quisesse. Escreveria histórias de amor que nunca aconteceram, e melhor mesmo que nunca tenham acontecido, falaria das inquietações do mundo, das coisas mal feitas e daquelas que nunca foram feitas, porque somos perfeitos demais para nos deleitarmos com essas coisas vãs. Seriam histórias incompletas, engolidas pela quina da parede, ali onde o gesso observa a vida; seriam lágrimas e sorrisos aos montes. Eu poderia exercer minha criatividade e seria livre por me desafogar; existiria para sempre nas paredes, e poderia eternizar minhas palavras de sentimentos, que seriam ouvidas e reconfortadas, trocadas, reinterpretadas, comentadas. Seriam livres por aí, o que ainda não são.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Mari naná



A Marina tavassentada ao meu lado, com a blusa-da-pegação (i love tom, i love ted, i love john, i love jed, i love standby), e a barriga dela tava todadesprotegida. Nós estávamos agonizados, dentro da salaquentedetecom, o professor não passava o filmenunca. Por dentro, Marina remexia em suasinquietações. "Ah, tenhoquecaber novestido". "Ah, ossorvete com o Flávio vai darerrado". Eu ouvi esse último pensamento da Marinalá, e disse para ela aqui que não, ia dar tudo certo, nada haveríade estragar o nossossorvete, porque eles sempre dãocerto. Saem sussurrando poraí (os sorvetes). Foi então que, do jeito que o Diabogosta, eu enfiei o lápis na barriga da Marina, ela murchou toda e sumiu, acabei com a Marinamá.

Acho que o sorvete não vai dar certo.