terça-feira, março 31, 2009

Cajus

Vinha com os dedos lambuzados da fruta, e o aroma forte derretia languidamente com o calor suave que entrava pelas janelas, o sol soprava-lhe rapsódias na orelha e o mundo se resumia ali somente naquele conforto. Parecia um gato que havia acabado de acordar, blasé e sonolento.

sábado, março 21, 2009

Sobre o catalão e o caboverdiano

Minha história com o caboverdiano é curiosa e me inquieta desde que passei a escutar Mayra Andrade. Mayra foi catapultada para a nata dos circuitos musicais depois que saiu de Cabo Verde, sua terra natal, um arquipélago da porção setentrional da África, para cantar sobre chuvas de rabada e murros no tatame em bares cult e renomados de Paris. Mas Mayra não é o cerne de nossas preocupações.

Do mesmo modo que o latim degenerou em várias línguas que foram se transformando, o caboverdiano, a língua do povo de Cabo Verde, tem uma formação muito curiosa. O latim, por exemplo, deu origem às línguas formalmente conhecidas como latinas, o português, o espanhol, o francês, o italiano, e uma outra porção de idiomas menos praticados, como o romeno. Quem fala romeno hoje em dia? Ninguém. Ao contrário do caboverdiano, que é falado por muita gente por aí, e você nem imagina. E como a língua é viva, o espanhol também degenerou-se, por exemplo. O catalão é falado com profusão no sudeste da Espanha e custa a infiltrar o resto do país. Em Barcelona, por exemplo, ao analisar alguma obra de Gaudí, é preferível, para ser entendido, proferir um comentário em catalão, não em espanhol. Catalão é uma língua curiosa. Ao contrário de castelhano, que se diz castellano, ou español, porque o castelhano afinal de contas é a língua oficial da Espanha, catalão diz-se català. Confuso, não?

O caboverdiano é mais, e sua história permite entender a curiosa história desse arquipélago africano. Cabo Verde foi colônia portuguesa, e como tal tem como idioma oficial a língua dos patrícios. O português é utilizado nas cerimônias oficiais, nas assembleias legislativas, na imprensa e em outras publicações, como as embalagens de papel higiênico do presidente. No entanto, a língua do povo, o tupi-guarani deles, é o caboverdiano, amplamente usado nas cantigas de roda, nas receitas de caruru e no comércio de morangos e lagostas. O caboverdiano ainda está em processo de normatização, e cogita-se elevá-lo ao estatuto de segunda língua oficial do país, ao lado do português.

Essa falta de normatização é visível na pronúncia e na estrutura do caboverdiano, que parece uma língua assim meio solta e misturada, como o catalão, uma língua que ficou para trás, que congelou. Quando Mayra Andrade canta que "tunuca parla que tem corage", ou que "é nós que embarca pa São Tomé", ou que "cadum com si mania, fá redondo virar quadrado", os lusófonos podem suspeitar: essa mulher está querendo dizer alguma coisa, que não é exatamente na minha língua, e como eu consigo entendê-la? Aí tem. Enquanto isso, os parisienses em bares cult aplaudem e aplaudem. Eles acham que estão gostando do francês bem falado dela, porque o ensino de inglês e francês é obrigatório nas escolas caboverdianas, mas eles estão impressionados mesmo, inconscientemente, é com a língua materna da cantora ter um pé lá no latim, por aproximação com o o português.

O que me leva para a seguinte hipótese: o catalão está para o espanhol como o caboverdiano está para o português.

P.S.: em uma de suas músicas, Mayra diz "dimokransia" (democracia), sendo que o título da canção é "Dimokrasa". Talvez eles conjuguem substantivos, como no alemão e no polonês. Mas aí já mistura demais.


Mayra Andrade em sua versão fatal. Caboverdiano, português, catalão, alemão e polonês em apenas 12 músicas. Imperdível.

quinta-feira, março 12, 2009

Terceiras pernas

Depois daquele "alô", momentos de caos e agonia. Uma mensagem entrecortada, uma voz meio desconhecida, dizendo "deu problema com o seu ponto do trabal", e vozes nunca mais. Uma troca rápida de chips de celular, celulares de companhias diferentes, e o sistema inteiro se fecha para o diálogo. Ainda resta uma esperança: cartão de orelhão! Mas é claro que como ninguém usa orelhões, e esta era uma sina a ser vencida, o único que funcionava estava a quilômetros de distância, nas areias cruéis do piso de concreto, sob o sol. As vozes retornam. "Você precisa vir aqui no décimo andar para assinar sua folha de ponto. Ela estava vindo e voltando sem sua assinatu" milhares de rostos aparecem no céu, as chefes relapsas, funcionários atolados de papel e SUCO EM PÓ CLIGHT. A tela do celular? Apagada para sempre. "Digite o seu SIM", sim?, que tipo de celular requer um advérbio de afirmação para funcionar? "Não, eu não sei o meu SIM". Meu Deus, eu nem sei o que é um SIM, então este mundo está mesmo perdido.

Aí almoço, e depois trabalho. No caminho, recai a consciência terrível de que naquele momento havia-se perdido a terceira perna, esta inútil que nos apoia. Qual seria a próxima terceira perna, então? Dormir no ombro do deputado? Morder a bochecha da menina ao lado? Colocar um piercing? Azia?

O desfecho trágico desta terrível história vem a seguir, não menos sem algum alento. A internet é a nossa terceira perna, porque ela resolve tudo. "Para desbloquear celulares, dirija-se a uma de nossas lojas". No mesmo momento, um chamado divino de um amigo de longa data, convidando para um lanche. No shopping. Shopping = loja de celulares. Magnífico. Atendente sorridente, esperando ser utilizada. Explicações. Histórias. Testes. Sorrisos. Chips. Baterias. Veredito: celular quebrado. A terceira perna indo-se para sempre. Cortinas. Medo. Silêncio. Morte.

domingo, março 08, 2009

Olá, tenho 9 anos e estou grávida :)

"Olá, tenho 9 anos e estou grávida :) Vamos brincar de boneca? Eu trouxe minha boneca preferida pra gente brincar. Você trouxe a sua também? Legal, a gente pode fingir que aqui é a nossa casa e os nossos maridos estão trabalhando, e... ah, você prefere brincar de bicicleta? Eu não posso brincar de bicicleta porque estou grávida de gêmeos, ai, espera, eu preciso sentar porque minhas pernas doem..."

Deveriam ter deixado essa garota de 9 anos que foi estuprada pelo padastro continuar com a gravidez. Afinal, ser mãe de gêmeos é tudo o que uma criança de 9 anos mais precisa, não é mesmo? Nada mais natural, saudável e respeitoso à vida humana. O fato é que Deus tem planos para a vida de cada um de nós, e isso inclui termos uma vida infeliz visando à vontade do altíssimo, sermos enrustidos, expostos a riscos de doenças sexualmente transmissíveis e estuprados aos 9, levando gêmeos no útero durante 9 meses. Os que apoiam o aborto devem obviamente ser excomungados, os que estupram, não, afinal estamos aqui para nos reproduzir, apenas. "Crescei e multiplicai-vos", não é isso? Crescei e multiplicai-vos e depois vos perguntais por que o planeta está tão quente, tão poluído, tão destruído, tão caótico...

E aí, quando essa menina morresse matando os filhos que ela impositivamente teve de carregar, os bispos que defenderam essa gravidez não-natural, depois de anos de cegueira rezando para o teto de suas igrejas, poderiam começar a rezar olhando para a Terra.

editado: Para conferir e pensar um pouco mais.

quarta-feira, março 04, 2009

Anônimos

Existem textos que são inteligentemente produzidos e que nunca vêm à tona, geralmente não alcançam mais de dois leitores e portam uma sensibilidade que toca muito poucos. Os autores dessas obras podem ser pobres, desdentados, com 5 reais no bolso que às vezes não dão para um parco almoço, e nada lhes resta a não ser contar suas histórias por aí, e que bom que ainda têm energia para cantar, sorrir, falar e falar, porque nessas horas o hálito amargo de café não pode incomodar aos ouvintes. Publico aqui um desses textos, de um desses autores, a quem a pobreza não deu o privilégio de publicar sequer uma palavra.

"A mulher e a flor querem carinhos
Cada uma tem a mesma refulgência
Bonitas sem ódio e sem espinhos
Duas fontes de amor por excelência

A mulher para amar tem paciência
Zela o lar o esposo e os filhinhos
E a flor joga pétalas com essência
Nos cascalhos mais duros dos caminhos

São tão boas tão meigas e tão unidas
Tão sublimes tão belas e tão queridas
Que uma nos prende no aroma outra no riso

Se o homem quiser ganhar amor
Acarinhe a mulher e zele a flor
Que esse mundo se torna um paraíso"


Eduardo Manoel dos Santos

kkkkkk



kkkkk! gente rs! desd pequeño e já causando confusões rindo pra galera. essa fota é um prova de q, se vx são bbês, então devem aproveitar ao mássimo e rir de TUOD. neça época sinistra em ke se comiam só papy=7nhas, qse semrpe de abacatch com l~imao, não avia nada msmeo a fazerrr, a não ser GAGRALHRAR. atoron.

agora, se eu soubece que viveria a era do ACEQIMENOT GLOBAL, não teria rencecarnado nste país, teria escollido outro logradouro, como SIBÉRIAQEMCURTE? a diferensa é que poderia conjelar se gagralhrarsse com a boac tão aberto. nd é perfeito né gente rs ai. enfin, os gramdes propózitos deste post son:

1. eu antes de ir pra secola;
2. mmma~e quero ppxca;
3. aceqimenot global STOP
4. bebês fofinhosos kkkkk NOT