sexta-feira, maio 30, 2008

Sentido da vida

"Come with me, my love
To the sea of love
I wanna tell you how much I love you"
Cat Power

A mulher se escorou no balcão e esperou ser atendida, morta de tesão. Naquele momento ninguém seria capaz de saciar sua vontade – somente ele. Perscrutou ávida, na vitrine, aquele que melhor lhe agradava, mas todos eram lindos e maravilhosos, todos eram SÓ PARA ELA, MEU DEUS!, quase não cabia em si de tanta alegria por haver tantas opções...! Meteu a mão nos bolsos para ver quanto dinheiro ainda tinha, e se de repente não pudesse pagar por um luxo daqueles? Seria a pior morte de todas. Mas aí veio o rapaz de jaleco branco meio desabotoado, ela fez seu pedido e EM BREVE SERIA FELIZ NOVAMENTE! Logo, logo poderia encontra-se com aquele que daria sentido à sua vida de prazeres, logo poderia jogar-se nos braços da melhor invenção do homem: o chocolate.

Então o pedido chegou e ela comeu comportada.

domingo, maio 18, 2008

Meu tempo dos outros

"Trabalhei com recreação de crianças terminais que sofriam de câncer. Num dia, uma criança estava brincando comigo e, no dia seguinte, ela não estava mais. Eu tive a noção do irreversível, da passagem do tempo, da finitude. Ali conheci a morte de perto".
- Ney Matogrosso

Se meu tempo for extremamente curto, que a vivência seja extremamente longa, intensa e afável. Que eu arranje mais brigas para comprar, mais pessoas para ajudar, mais lutas e mais cascas para perder. Que eu aprenda a ser uma pessoa desmesuradamente boa, porque o mundo não é bom, e que eu perpetue por aí todo o amor fecundo que eu soube cultivar. Que eu saiba enrijecer sem perder a ternura, e que eu ganhe alguma recompensas, porque ninguém é de ferro!

E no fim o meu tempo é o tempo dos outros que caminharam comigo.

sexta-feira, maio 09, 2008

Perfil: o Gilson da banca


A banca do Gilson é o maior estabelecimento do gênero no campus da Universidade de Brasília. Localizada na entrada do Centro de Vivências Sul (UDFinho), está ali desde 1977. O dono, Gilson Queiroz, saiu do Rio Grande Norte ainda bebê, chegando à capital em 1961, junto aos sete irmãos, o pai e a mãe, que já mantinham uma banca de revistas. Gilson e mais dois irmãos herdaram o talento para o comércio – os outros enveredaram por caminhos diversos, como a enfermagem e o jornalismo. Antes de ele abrir sua banca na UnB, seu irmão já era dono de uma em Sobradinho.

Antes de fixar-se no local onde está hoje, a banca do Gilson passou por diversos pontos do campus. Já ficou ao lado do Restaurante Universitário (que também já mudou de lugar), ao lado da barbearia do Chico, e no local ocupado hoje pela Caixa Econômica (onde esteve por oito anos). A história da banca começou num tempo em que a Universidade era "praticamente deserta" de comerciantes. Enquanto era deslocado de um lugar a outro, Gilson vivenciou o crescimento e o fechamento da Só Livros, grande livraria que ocupava uma porção generosa da Ala Sul do ICC, além da abertura de um comércio finalmente organizado na UnB.

Nos tempos da ditadura, quando a banca era um "amontoado de grades", Gilson vendia escondido jornais alternativos, como O Movimento e O Pasquim. Hoje, reformada, a banca vende revistas nacionais e importadas (desde eróticas às de arte e design), jornais, gibis (líderes de vendas), livros, incensos, camisetas, doces e refrigerantes. O tempo lhe trouxe duas certezas: a de que as assinaturas de revista esmagaram as vendas em bancas , e a de que a consciência política dos jovens piorou, mesmo depois da ocupação da reitoria. Como forma de compensar a venda irrisória de revistas, Gilson precisou diversificar-se: é por isso que, hoje, bancas de jornal vendem também refrigerantes.

O tempo ainda lhe deu a capacidade de manter relações duradouras com seus clientes, além da oportunidade de ver gerações inteiras passar pelo estabelecimento. Houve casos em que clientes seus casaram e tiveram filhos, que tiveram filhos que estudam hoje na UnB. Além de conversar com os clientes, sorrir e comentar pouca coisa sobre as últimas notícias, Gilson gosta de ligar o som e ouvir música erudita, jazz ou blues enquanto trabalha. "É de berço", justifica-se. Gilson é espírita, e o que a religião lhe ensinou,junto aos 49 anos de vida, foi que "ninguém é conhecedor da verdade. O que importa é respeitar as pessoas, além de sorrir para a sorte abrir".

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