domingo, novembro 23, 2008

Metástase

As células cancerosas existem desde sempre no organismo, elas se multiplicam timidamente e são destruídas pelo corpo saudável; no entanto é sempre nessa época do ano que o câncer se manifesta, e cresce subitamente como uma grande laranja amarga, cujo suco amarelo veda os olhos, a mente e as orelhas. A cólera incurável ocupa no cérebro os pensamentos contra os papais noéis, as opiniões dos outros e enfim o amor - qualquer manifestação de vida pode retornar com uma ação violenta, completamente destruidora. Quando o antídoto parece distante e o acometido da doença não encontra forças para lutar contra esta assombrosa metástase, por mais que relute aos assombrosos sintomas, é hora de entregar-se aos chicletes MARUKAWA.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Trapalhadas na Universidade

As coisas funcionam (quando funcionam) assim na UnB: você liga para o celular do novo reitor, na sexta-feira, e ele diz que te passa o nome dos novos decanos na segunda. No mesmo dia, você recebe o recado de que o secretário de comunicação já tem confirmados esses nomes. Você liga pra ele e ele te repassa para a Secretaria de Comunicação (a preguiçosa e caótica Secom). Enquanto as assessoras te repassam os nomes dos decanos, uma ligação misteriosa manda interromper todo o processo, e elas cancelam tudo dizendo que os nomes não estão confirmados, o que é muito complicado para elas, porque elas "têm um jornal para fechar" (eu também). Então, na segunda-feira você volta a ligar para o reitor, ele enfim te autoriza a pegar esses nomes na Secom, e as assessoras, com ar de deboche: "você falou com ele diretamente e não pediu pra ele os nomes?". "Não, hehehe" ("não, vocês são tão burocráticos que ficam repassando de um para o outro uma obrigação que não é do reitor, mas da assessoria, imbecil"). As assessoras anotam o seu celular para retornar a ligação em breve, não retornam, e, ligando lá novamente, você descobre que "em 10 minutos" o site da assessoria vai divulgar os novos decanos.

Um bom tempo depois, o site divulga os nomes finalmente, e você sai correndo porque precisa escrever uma matéria (cujo lide poderia ser "Secom tenta abafar novos decanos com desculpa esfarrapada").

(no mesmo dia, a decana de graduação da gestão pro tempore afirma a uma repórter do Campus, que está fazendo uma matéria sobre falta de professores concursados - um problema antiqüissímo na insitituição - que esse problema "ainda não chegou ao decanato". Talvez a decana tenha se eclipsado no tempo).
(ainda no mesmo dia, e essa é a parte bombante da história, você descobre que essa decana, essa mesma, a que não sabe sobre a falta de professores na UnB, vai continuar no cargo durante a nova gestão).

domingo, novembro 02, 2008

Salada de fruta

Já fiz fotografias de muitas gentes. Gente dormindo no chão, gente morando a 40km de Brasília, no meio do mato e dos bichos, gente no interior do Goiás, gente trabalhando em museu... mas foi aquela senhora da rodoviária, no meio de toda aquela gente, que me ensinou a agradecer. Ivanilde vem de Luziânia todo dia, e recolhe esmola ao lado do Conjunto Nacional enquanto o marido toca sanfona. Os rendimentos são poucos e valem, quando valem, um almoço modesto: arroz com feijão. Mesmo passando horas sob o sol, com a proteção de um guarda-chuva, o casal não sabe quanto dinheiro terá para gastar com comida.

Por intermédio da lente, eu vi os olhos marejados de Ivanilde, vi o sorriso simpático atrás das rugas, vi os cílios e as sobrancelhas, as marcas de sol, as imperfeições nas roupas, e as perfeições também, e antes que eu chorasse ali mesmo, tentei encontrar um enquadramento que fizesse jus à leveza daquela mulher.

Ivanilde ganhou uma salada de fruta no fim da entrevista, ergueu o copo para o céu e agradeceu, novamente emocionada. Eu é que agradeço, e tomara que mais gente passe por você.

(e o engraçado é que esses US$700 bilhões não estavam guardados para ajudar as pessoas, mas sim os bancos; não para salvar as vítimas, mas para absolver os culpados)


crédito da foto: eu mesmo!