sábado, dezembro 30, 2006

Em 2007,


Em 2007, nada será permitido ou proibido; tudo será possível, inclusive fazer cócegas nos hipopótamos e prender lírios artificiais nos cabelos, acenar para cachorros de rua e sorrir para pessoas nas janelas. As senhoras usarão saias indianas e as crianças brincarão de pique-esconde lá dentro, tudo será colorido e esvoaçante, a grama balançando ao sabor do vento, e as roupas recenderão livremente a amaciante não testado em animais. As pessoas devolverão a inocência ao mundo e o amor não será assassinado; haverá poesia e candice em cada sorriso que mover os lábios por aí.

Brincaremos de cochichar nos ouvidos dos outros, receberemos abraços macios em troca e ficaremos abraçados por muito tempo, devolvendo ao espírito o sabor de sincera paixão.


(baseado em frase de Thiago de Mello)

domingo, dezembro 24, 2006

Noutros tempos


Então o cheiro do frango já começa a entrar nos quartos, lá da cozinha. Por mais que eu acredite que os animais vêm ao mundo com uma função a desempenhar no Universo (e não para servir aos homens), tanto quanto nós, humanos, e que humanos e animais são iguais em todos os aspectos espirituais mais básicos, e que todos juntos compõem uma cadeia de relações divinas e inexplicáveis, que se chama Natureza, as pessoas continuam a me olhar torto. Parece-me que estão ainda muito apegadas a essas coisas vãs, essas coisas vis, essas coisas chatas, queixas velhas e idéias anciãs. Neste fim de ano, esses pernis assados fazem parecer que, muito embora eu tente aprimorar o corpo sutil meu e dos outros, os animais vão continuar morrendo para servir aos viciados paladares.

Aparentemente, as escovas-de-dente por aqui têm se reproduzido intensamente. Por quanto tempo uma escova-filhote deixa-se encubar na escova-mãe, até que venha latejando a vontade libertadora de sair do casulo quente? Por outro lado, os sabonetes passam por intenso regime celibatário e não se preocupam em gerar descendências. Mais um sabonete verde-claro, com cheiro de "frescor da manhã" (?), e a gaveta ficará vazia, entregue às... às? Talvez às baratas, que, desde Hiroshima, vivem resistindo aos ataques nucleares, mudando de forma e corpo, mas sempre elas mesmas. Tão fortes, essas meninas cascudas. De todo modo, não pode haver banheiro com muitas escovas e sabonetes nenhuns. O sistema entrará em colapso. Céus. Tchau, banheiro.

Eu desejo, àqueles caríssimos que me leram, um 2007 repleto de banheiros equilibrados, ceias sem cadáver e muito amor com beijos, daqueles que fazem a gente querer mais e catapultam a consciência lááá pro céu, como noutros tempos. Tomara que as coisas sejam mais leves e transitem livremente por aí, com todas as cores bonitas e iguais para todo mundo.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Para sempre era o perdão que havia. Eu morria e você continuava a viver. Levava-me a passear, eram campos de cinzas e pó, farelos de lágrimas, dor e dó; a esperança brilhava breve e me sorria, aí fugia, corria, para perto de alguém... não eu. Debaixo do sol provocante, reluziam os toldos verdes em prol do cessar dos corações. Aí tudo cessava, menos eu, que latejava escondido, embrionado, esperando por renascer.

domingo, dezembro 03, 2006


Em sonho, perguntaram-me o que era amor, e eu disse que, depois de indefinível, era como um chiclete azedo que se morde e deixa escorrer o recheio ácido, que vem percorrendo o corpo e queimando tudo. Quase paralisa a língua, e enxagua os olhos. Depois de todos os suores e as dores, e os tremores fenomenais, que ocorrem quando uma molécula "diz sim a outra molécula", emergem essas sensações alucinógenas que distorcem tudo e fazem aparecer uma sombra de ciúme na paisagem que era linda.

Isto ocorre quando uma molécula diz não a outra molécula, e é a parte que destrói as outras.