terça-feira, abril 10, 2007

Kennedy não morreu


Lee Oswald / matou John Kennedy / ontem à tarde / de uma janela / num automóvel conversível / em Dallas, Texas / com dois tiros de um fuzil com mira telescópica / por motivo ainda não claramente estabelecido.

"Com base nas informações acima, escreva um lide e um sublide".

Ontem à tarde, em Dallas, Texas, o Presidente John Kennedy morreu com dois tiros de um fuzil com mira telescópica, disparados de uma janela por Lee Oswald. John Kennedy desfilava num automóvel conversível diante de uma multidão, quando caiu morto e sangrando, com o carro ainda em movimento. Jacqueline, sua mulher, que na ocasião trajava um vestido barato comprado em feira de antigüidades, entrou em desespero e engoliu quilos de serpentina.

Ontem à tarde, em Dallas, Texas, o Presidente John Kennedy morreu atingido por dois tiros de um fuzil com mira telescópica, disparados de uma janela por ninguém menos que Lee Oswald. Os motivos ainda não claramente se estabeleceram. John Kennedy desfilava num automóvel conversível diante de uma multidão em polvorosa quando caiu morto. Uma senhora idosa e minúscula, que viu a tudo de muito perto, disse apenas lembrar-se dos gritos ensandecidos da multidão. "Foi inesquecível", conta a senhora, saudosa, que agora tem, com certeza, uma história para contar aos bisnetos.

Na tarde de ontem, em Dallas, Texas, o Presidente John Kennedy morreu em uma janela atingido por dois tiros de um fuzil com mira telescópica, disparados de um automóvel conversível por - pasmem! - Lee Oswald. John Kennedy observava a paisagem urbana quando as balas o atingiram e ele despencou do 10º andar. O corpo foi visto no jardim do prédio, logo à entrada, quando um padeiro passou carregando farinha e fermento.

Por motivo ainda não claramente estabelecido, na tarde de ontem, em Dallas, Texas, o Presidente John Kennedy foi atingido da janela de seu conversível por dois tiros de um fuzil com mira telescópica, disparados pelo muitíssimo famigerado Lee Oswald. John Kennedy, todo engomado em seu carro de luxo, acenava para a multidão, trazendo-lhe iluminação e esclarecimento, quando caiu morto. O carro permaneceu em movimento, abrindo caminho pela turba encantada, enquanto o corpo do Presidente descansava incólume na janela do automóvel, pernas para dentro e tronco para fora da janela.

É, é possível ser criativo com a pirâmide invertida.

sexta-feira, abril 06, 2007

(Vi)ver [all I wanna do is... bycicle, bycicle)


Mamãe espalhava as jóias e os conjuntinhos no quarto arrumado e ia passear. O cômodo impregnado de perfume ficava levemente fora dos conformes, mas a fragrância tão maior não deixava transparecer as imperfeições da leve bagunça.
O sol nascia tímido e ia crescendo aos poucos, deixando o azul mais azul; pegava a bicicleta e percorria o mundo, as pessoas em fila comprando coisas, as velhas ricas fugindo da miséria que vinha de baixo a corroer o navio inteiro. Atravessava a tudo isto como uma seta sábia e rija que ia chegar ao outro mundo, mais com os limites dissolutos e por isso mais belo, mais vazio das aves ávidas que me vieram destruir.

E nadava com eles na água fria e nos beijos mornos de sábado. O rio olhava cúmplice e atento, desviado do entulho ao redor e sorrindo simpático à inocência que desflorava e não morria. Nascia em tais ocasiões, tanto como nos dias em que o barulho da música era alto e o ar cheirava inebriante, os braços dançavam pelo alto e tudo era muito, muito vazio de sentido; não havia por que encontrar razões.

Sustinha e guardava dentro a amizade que descobria com a maior das levezas da vida, experimentava o mundo novo e não cedia, não queria ver ruir o que era para sempre. Gritava as ordens confusas dos outros e distribuía armas secretas, mas com a intenção pouco animal de sentir a balbúrdia e a raiva vibrando na superfície da pele; era o momento único em que podia fugir para muito longe, protegido pela visão poderosa de criança, e desfrutar do viés novo com que pintava a situação.

Divulgava um universo mais saboroso que era possível e não queriam ver; que imensa agonia sentia das pessoas cegas e autocentradas!, que vida pouca levavam, e o planeta, tão maior, palpitando-lhes aos olhos, cheio de reentrâncias! E recebia em comunhão o brilho dos olhos alheios e dos dentes a sorrir, mas não das jóias de mamãe, agora bem pouco reluzentes.
Transitando entre as frestas proibidas, montava a bicicleta e ia viver, VIVER!, conhecia como ninguém o sabor renovador de sensações que, Deus, funcionavam. O chão era almofadado como nunca. O vento gostava de fazer cócegas no cabelo das mulheres e a relva fazia ver os grilos que cricrilavam. Algum olho de Deus, talvez o esquerdo, ou mesmo o direito, espiava atrás de uma nuvem grandiloqüente, cheia de si por ser quase divina, e sorria branca contra o fundo azul e estranhamente triste.

As crianças deixavam-se ser, a inocência era mais inocente e os dias nasciam com imenso frescor. E o pedalar ultrapassava a barreira imposta. E os conjuntinhos ainda cheiravam bons. E as pessoas permaneciam vivas na luta. E as faces gostavam de sorrir a todo mundo. E a luz resfolegou antes de a cortina cair por inteiro.