quinta-feira, junho 25, 2009

Uma desculpa para não ir

Colegas,

Venho por meio deste justificar minha ausência na festa junina da CORDI. Eu _juro_ que estava indo para a festa, mas aí apareceu uma cratera no meio. Não, era um precipío mesmo, sério!, aí eu caí e rolei, e enquanto eu rolava gritei "NÃOOOOO! EU PRECISO IR PARA A FESTAAAAAA, O PESSOAL ME QUER LÁÁÁÁÁ!". Mentira. Não, agora sério, eu fiquei com dores no corpo, achei que ia ficar gripado e o Tarzan nem ia querer me beijar na barraca do beijo. Risos. Além disso vocês todos já gostam de falar alto e dizer palavrões, ninguém tem um assunto bom que seja nesse setor, e eu não queria ver essa situação piorada quando vocês estivessem bêbados, loucaços, tirando a roupa etc (credo. quer dizer, NÃO).

abçs

sexta-feira, junho 12, 2009

Corpo de Cristo

Hoje uma criança, um garoto, chorava pedindo esmola no semáforo. Chorava alto, percorrendo a fileira de carros e gritando "me ajuda, me ajuda", com a mão levantada e muitas lágrimas no rosto sujo. Poderia estar ali por muitos motivos. Poderia ser fome, uma fome severa (dizem que fome, fome de verdade, faz doer o estômago). Poderia ter sofrido um trauma, um espancamento, um estupro, uma dor terrível, um abandono. Poderia estar chorando de humilhação. Poderia estar ali por ordem dos pais, chorando de vergonha, ou chorando de fingimento, porque lhe ordenaram.

Mas nada justifica o estado lamentável daquele ser humano em prantos. Virei-me para buscar a carteira e pegar ali um dinheiro, enquanto ao meu lado, fora do carro, o menino chorava e aquela dor me reverberava nas orelhas. Dei-lhe 5 reais, sabendo que não são 5 reais que resolvem uma agonia. Durante aqueles minutos em que procurei o dinheiro, poderia ter morrido, sofrido um assalto, um sequestro, um tiro na cabeça, um furto no carro. No final, ele agradeceu, continuando a chorar.

O que me leva a crer que seu desespero era real, e não mero teatro. Mesmo que fosse, ainda assim era uma criança em sofrimento, uma criança que não despertou a revolta de ninguém, uma criança que não estava alimentada, não estava limpa, não estava saudável, não estava brincando. Também nenhuma mão se ergueu para ajudá-la, para abraçá-la, para oferecer-lhe um conforto, nenhuma mente se questionou daquilo que viu e que não viu (afinal, já nos ensina a semiótica que o mundo que vemos diante de nós nos ajuda a pensar sobre o mundo que não estamos vendo).

Somos um país majoritariamente católico, talvez não sempre praticante, mas com certeza crente em Deus. Gostamos de ir à missa, rezar e celebrar o corpo de Cristo. Quase sempre tememos abrir nossas janelas, por medo de roubarem nosso dinheiro tão valioso, e sequer nos incomodamos, porque não aprendemos questionar o mundo que estamos construindo. O corpo de Cristo está bem guardado em nossas capelas douradas, e ao que parece deve valer muito mais que o corpo do homem, em frangalhos sob qualquer semáforo e para o qual não se rezam missas. Como diz Saramago, "assim vai o mundo e não haverá outro".

sábado, junho 06, 2009

Rodada de negócios, quem curte?

Nada mais perigoso e sexual que uma rodada de negócios entre empresas. Geralmente acontece no prédio mais afastado, cercado por um mato alto onde se escondem coisas que é melhor deixar pra lá. A infra-estrutura é impecável, o auditório tem um ar-condicionado que simula o inverno da Sibéria, os banheiros são limpos, modernos, ecológicos etc. A simpatia dos funcionários atrai os convidados sempre para o interior mais profundo daquele prédio, longe do estacionamento amarelado e dos carros com faróis ligados, que desligam à menor das observações.

É nesse ambiente perfumado, climatizado e socialmente desconectado da realidade dura deste país lusófono de dimensões continentais que acontecem as parcerias, os diálogos e, o pior, os elogios tão descarados. A coisa começa quando a coordenadora faz a social com os mais chegados, abraça e beija e inaugura o coquetel (refrigerante, suco fit de uva, pão-de-queijo, quiche de queijo, bolo de queijo, e sanduíche de frango, coxinha de frango e pastel de frango, frango e frango com frango).

Enquanto os presidentes de cada empresa se revezam numa dança louca das cadeiras, os outros integrantes se distribuem ao redor da mesa, em grupinhos primeiro herméticos, mas que depois vão recebendo um elemento externo aqui e ali, e a paquera está armada. As frases mais recorrentes são Oi, tudo bem?, o que vocês fazem?, sua empresa é o máximo!, vamos fazer uma parceria, toma aqui o meu cartão, qual é o seu telefone mesmo?, ah, eu funciono melhor por email - a partir daí, basta pouquíssimo pra as mãos deslizarem para os quadris, puxarem a calça com violência e corpos se arremesando contra as paredes.

Mas não. O que se vê é uma série de tiques nervosos, hormônios caindo e subindo, perfumes nauseantes se misturando no ar e olhos percorrendo lá e aqui, indo e voltando. Com a mente nos negócios, fica difícil divisar, entre tanto terno, tanta roupa, tanto tecido, os corpos tão desejados. O olho afinal precisa atravessar paletós, gravatas e camisetas para enfim chegar às formas tão desejadas, as gotas de suor deslizando pelos peitos e chegando aos cintos, porque lá sim residem os grandes sucessos.

Até que se desvelem todos os segredos, demora tempo e álcool no sangue dessa gente que gosta de estar gerindo pessoas. Durante este intervalo em que nada acontece, os olhos e as intenções vão dos rostos aos colarinhos e por aí param.