quinta-feira, novembro 05, 2009

Meu primeiro toco


É o que sempre disse: gente bonzinha só se *. Eu não deveria ter aceitado seu convite para uma conversa, não deveria ter começado com aquele email. Você soube arquitetar a conversa muito bem e eu nunca imaginei que a evasão custasse tanto jogo de cintura. Mas eu poderia ter aceitado, pelo gosto culposo da aventura. Poderíamos fingir que nos esbarramos lá por acaso. Entraríamos na mesma sala, e você gripado fungaria como uma porca enjaulada, o frio do ar-condicionado descendo espiralado como um perfume envenenado, querendo que nos agarrássemos. Agarraríamo-nos com as mãos, apenas, sua mão quente aquecendo a minha. Visualizaríamos essa cena em plano-detalhe, como um dos muitos planos-detalhes que transbordam nesse filme do Quebec, e como é impossível entender o sotaque do Quebec. Seria somente nesse ponto, porém, banhado pela luz da tela, que eu poderia perceber: nada disso aconteceu, eu não aceitei, eu recusei depois de muito pensar e o que me levou a sentar sozinho naquela sala foi o fato de eu ter dado meu primeiro toco.

terça-feira, novembro 03, 2009

Percebi

Eu percebi que você está me olhando, percebi sim. Não adianta fingir discrição, não adianta revezarmos os olhares, eu sei que você está me olhando e você sabe que eu estou correspondendo. Então vamos juntos voltar de Nárnia, vamos fingir que não há ninguém aqui e sair rolando por essas esteiras. Vou começar lambendo sua garganta, passar pela cabeça e ir descendo pelas costas suadas, porque sua camiseta grudou na pele e eu consigo enxergar os músculos com seus volumes e movimentos, a transpiração, vou rasgar todo esse tecido e guardá-lo para mim, vou apalpá-lo como se não houvesse amanhã, vamos aproveitar que ainda há tempo e que eu percebi.