sexta-feira, janeiro 02, 2009

Luciana Gimenez no meu quadrado

Se 2008 foi o ano da macumba, 2009 não poderia ter começado pior.

A história iniciou-se com um bruto enjoo no estômago, que me acompanhou durante toda a viagem e foi dar resultados apenas quando cheguei em casa: vômitos e mais vômitos. Qualquer coisa que eu colocasse corpo adentro, inclusive água, era rejeitado pelo estômago, que doía de tão fortes contrações. Quando cheguei a um nível considerável de desidratação, com garganta seca e um deserto por dentro (e febre), achei que era melhor tomar uma providência - foi quando também meus pais começaram a ter os mesmos sintomas que eu.

Foi aí que fomos todos ao hospital, às 22h do primeiro dia do ano. Ainda enjoado, sentei na sala de espera e vi um filme ruim do Didi, enquanto meus pais faziam a parte burocrática. Demorou. Depois, fomos atendidos pela médica: um de cada vez, pra não virar farra. O diagnóstico parecia tender para uma infecção alimentar, talvez por salmonella, o que foi confirmado logo em seguida pelo exame de sangue, que fizemos todos no hospital mesmo. A enfermeira que tirou o sangue talvez estivesse muito cansada por causa do ano novo, e errou a agulha na veia da minha mãe umas 3 vezes. Estresse.

Mas a parte legal vem agora: enquanto o resultado do exame não saía, fomos conduzidos a uma salinha com poltronas que pareciam divãs, onde nos seria ministrado soro na veia. Que emoção, nunca tomei soro na veia antes! Ainda mais assim, com a família toda. Um programão. Minha mãe, posuda, com seus colares e pulseiras, prostrou-se numa poltrona ao meu lado e deixou bem claro que tinha medo daquelas coisas entrando no corpo dela. "Moça, se eu não quiser mais, você vem aqui e tira, certo?". Era um frasco grande de soro, e outro menor de algum remédio para o estômago, mas a enfermeira insistia em não esclarecer o que era. Enquanto minha veia era preparada para receber os estranhos líquidos, olhei para o lado e contemplei a figura paradoxal de minha mãe recebendo soro na veia. Nunca achei que fosse vivenciar isso. Quase a chamei de pinguça.

Então finalmente penetraram uma agulha em meu braço, e eu vi o sangue saindo de-va-gar-zi-nho, e depois o soro finalmente entrando. A picada da agulha doeu, mas percebi que eu realmente não tenho pânico dessas coisas. Todos aqueles canudos de borracha, o líquido escorrendo lentamente até desbravar o meu braço, o meu corpo, todas aquelas pequenas válvulas verdes de plástico que conntrolavam a entrada do soro... tudo me pareceu muito robótico. Legal, gostei.

Só que na salinha onde estávamos (e meu pai fora levado para outra, para o desespero de minha mãe), havia uma televisão sintonizada no programa da Luciana Gimenez. A única coisa que passou foi uma banda (?) de funk com muitas mulheres popozudas de calça branca, que mostravam os fundos para a câmera. Mulher melancia, mulher abacate, maçã, morango, pêra, banana, uva... todos os tipos de mulheres, para todos os gostos. E quando a banda terminava uma música, sempre com letras instrutivas e que faziam minha mãe se remexer desconfortavelmente na poltrona, a Luciana Gimenez comentava algo como "que legal!, e a mulherada dançando, hein?", e fazia uma pergunta boba. Os vocalistas respondiam, e ela dizia "que legal!". Deve ser fácil ser a Luciana Gimenez: é só ficar o programa inteiro dançando e repetindo "que legal, que legal", acrescentando um comentário ou outro, mas não precisa ser nada geniaaaal não. O ápice da história foi quando a Luciana convocou ao auditório aquela brilhante artista que compôs a dança do quadrado, e aí o nível baixou: "agachamento no seu quadrado, agachamentonoseuquadrado, eita que a mulher melancia deve fazer muito esse!". Minha mãe enfartou. E eu estava quase me torcendo de rir com os pulos desajeitados das popozudas dançando em seus minúsculos quadrados, e torcendo para que o peito de uma delas pulasse para fora da roupa e a Luciana dissesse "que legal!".

Até que um médico gente fina apareceu e perguntou se estava tudo bem, e eu tomei coragem e disse "sim, menos a televisão!" "quê?" "menos a televisão!" "ah tá, mas também... que péssimo". O médico mudou para a Globo, que passava um drama americano chamado Dança Comigo?, que é uma refilmagem de uma comédia japonesa chamada... Dança Comigo?. Os americanos fazem com o cinema japonês o que os japoneses fazem com a tecnologia produzida no resto do mundo: copiam, patenteiam e vendem como se eles tivessem inventado. Em geral, as versões originais, japonesas, são melhores. Dança Comigo? não foge à regra, e é divertidíssimo. Recomendo.

A noite terminou com o soro inteiro entupido nas veias. O estômago melhorou, a disposição melhorou, e tudo há de ser melhor quando os antibióticos derem um fim às salmonellas. Só passei a última noite em claro.

8 comentários:

Anônimo disse...

eu queria ter visto dança comigo, mas alugaram batman (que eu já tinha visto).

aí, expulsa da sala, fui ler na cozinha e terminei o livro!!


ah, fláudio! 2009 vai ser estupendo. e tenho dito!

ImaGINE disse...

assisti a Luciana Gimenez esse dia tbm, e ao filme novamente, mas devo confessar q o Richard Gere deve ser melhor q qualquer ator japona, ao menos mais charmoso
FELIZ ANO NOVO

bju

Anônimo disse...

vcescreveu de forma que ao final eu ainda pensei "qual foi a parte ruim?!" hehe... mas espero q vc jateja melhor =T feliz ano novo fla!! :*

Anônimo disse...

Eu vi o programa dela um dia desses! Eles mostraram a mulher com os maiores peitos da América Latina (de silicone).
A mulher tinha acabado de sair da cirurgia, mal conseguia levantar. Depois que a matéria acabou a Mulher Melancia falou "que legal" e a Luciana Gimenez disse que a mulher (sheila? shirley?) precisou tirar as protéses porque teve uma infecção.
Aí eles chamaram a Mulher Filé.

Unknown disse...

Que legal esse post! Todo cheio de links e grande. Pena que seja sobre essa desventura horrorosa. Credo. Eu tenho gastura só de ver esses tubos de soro de hospital.

Minha mãe adora esse Dança Comigo? (o americano, óbvio), mas eu acho esses filmes de dança, em geral, podres. Também não vou com a cara do D. Gere. Pelo menos no meio desse filme tem uma música do Gotan P. e por isso minha mãe gosta da música (pq está no filme), o que acaba aproximando nossos tão diferentes gostos.

Line disse...

Ri muito com seu posto, em especial da parte das dançarinas hauhauahhauhua
O soro não entra geladinho, esfriando o braço? Achei muito engraçdo isso quando eu tomei... (mas, vergonhosamente, meu caso foi bebida mesmo... se bem que eu comi muita coisa estranha também e a mistura não deu nada certo...heuheue)
Ah eu vi esse filme na globo, nesse dia. A versão americana é bonitinha, vou procurar a orginal então =D
Ah, e um feliz ano novo, Flávio. Felicidades, viu ;***

Line disse...

Ri muito com seu posto, em especial da parte das dançarinas hauhauahhauhua
O soro não entra geladinho, esfriando o braço? Achei muito engraçdo isso quando eu tomei... (mas, vergonhosamente, meu caso foi bebida mesmo... se bem que eu comi muita coisa estranha também e a mistura não deu nada certo...heuheue)
Ah eu vi esse filme na globo, nesse dia. A versão americana é bonitinha, vou procurar a orginal então =D
Ah, e um feliz ano novo, Flávio. Felicidades, viu ;***

Unknown disse...

e agora eu fiquei pensando: por que diabos eu chamei o Richard de D.?