
Ali, na solidão crua do banheiro frio, observava o absorvente encharcado daquela gota de sangue que, para ela, era enorme e atordoante; ontem era menina, hoje era mulher praticamente total. O mundo, lá fora, passeava alheio a ela, mas, no fundo, preparava-se para recebê-la por inteiro, de braços abertos, completamente metamorfoseada, ela, naquele monstro confuso e incerto; mulher adulta querendo ser muito criança. As mudanças perseguiam-na como o fantasma redivivo da procrastinação; agora era inevitável, estava presa, caminhando sozinha por trilhas incertas, que ela evitou ao máximo e agora eram sua única garantia de não cair.
Imaginou os filhos que teria, o marido que seria seu e de outras, as ligações ciumentas ao celular, as pancadarias, a violência, a dor. Chorou. Depois, viu-se idosa: imóvel numa cama de hospital ou correndo nas calçadas, exibindo ossos saudáveis? Poderia atravessar quantas crisálidas quisesse, vidas inteiras aguardavam-lhe pela frente, deliciosamente suas, ainda que misteriosas. Era maravilhoso.
Maravilhoso, não. Ainda doía. Deitada no chão do banheiro, abraçada a nada, a menina estremeceu de medo de estar viva.
4 comentários:
É, assustador. ._. E não lhe dá mto tempo pra esquecer, sabe? Todo mês vem, nao existe como vc fugir disso, nem mesmo fingir q nao está acontecendo.
E existe tbm o constrangimento dos primeiros meses, terrível, terrível!
E, srta. Azul, pensamentos muito estranhos mesmo! o.O
o melhor foi que eu não escrevi esse texto pensando somente no drama das menininhas menstruadas, mas nas mudanças da vida de um modo geral.
hauhauhauahuahuahuahuah!
viver é FODA mermo!
a pessoa não pede pra nascer, não pede pra continuar vivendo, não pede pra se transformar. já dizia sartre, que estamos todos CONDENADOS à liberdade!
:]
aaah... Enya é perfeita mesmo né!
^__^
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