
Ali, na solidão crua do banheiro frio, observava o absorvente encharcado daquela gota de sangue que, para ela, era enorme e atordoante; ontem era menina, hoje era mulher praticamente total. O mundo, lá fora, passeava alheio a ela, mas, no fundo, preparava-se para recebê-la por inteiro, de braços abertos, completamente metamorfoseada, ela, naquele monstro confuso e incerto; mulher adulta querendo ser muito criança. As mudanças perseguiam-na como o fantasma redivivo da procrastinação; agora era inevitável, estava presa, caminhando sozinha por trilhas incertas, que ela evitou ao máximo e agora eram sua única garantia de não cair.
Imaginou os filhos que teria, o marido que seria seu e de outras, as ligações ciumentas ao celular, as pancadarias, a violência, a dor. Chorou. Depois, viu-se idosa: imóvel numa cama de hospital ou correndo nas calçadas, exibindo ossos saudáveis? Poderia atravessar quantas crisálidas quisesse, vidas inteiras aguardavam-lhe pela frente, deliciosamente suas, ainda que misteriosas. Era maravilhoso.
Maravilhoso, não. Ainda doía. Deitada no chão do banheiro, abraçada a nada, a menina estremeceu de medo de estar viva.