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terça-feira, setembro 18, 2007

Morango podre


O menino acordava cedo e abria a despensa da cozinha; de lá saíam borboletas, e ele saía em Nárnia.


No dia mais quente do ano, acordou atrasado e saiu correndo; não conseguiu se arrumar a contento e vestiu a roupa mais desconfortável. Com a virilha repuxando por causa de alergias (dessas que vêm e vão), confundiu freio com acelerador, e quase bateu o carro. Enfrentou longas filas e gente suada. Comprou morangos orgânicos a um preço convidativo. Quase quebrou o dedo jogando baralho violentamente. Quase não teve dinheiro para tirar xerox. Comprou salada de frutas com moedas sujas, e assou demoradamente, pedaço por pedaço, numa sala quente com ventiladores ineficazes, onde os morangos ficaram podres. Saiu atrasado, enfrentou banheiro sujo, e enfrentou filas de carros. Os morangos cheiravam. Aspirou fumaça de caminhão, e sacolejou em buracos. Chegou esbaforido, e perdeu o documento do carro (imediatamente encontrado pelo morador do 507; obrigado, morador do 507!). Reparou na rachadura da janela, tomou banho frio, leu, comeu e escreveu. Checou emails, e ainda não trocou o livro. Abriu a despensa da cozinha, mas não viu as borboletas; viu apenas uma lagartixa cega, branca e crescida. Fechou a despensa com amargor, e não saiu em Nárnia.
Amanhã tem mais. Quem dera fosse em Nárnia.