sexta-feira, maio 07, 2010

Raquel

Raquel e eu não suportávamos o barulho da turma nas aulas de Português, especialmente Gramática. Tínhamos uma paixão por Gramática que não sabíamos explicar, ela adorava escrever e eu, também. Sentávamos lá na frente durante as explicações do professor e anotávamos com afinco. Os livros de Biologia e História guardam ainda anotações e desenhos dela. Para além das aulas, eram as risadas dela que preenchiam uma boa parte do meu tempo, risadas altas e de um jeito peculiar, típico dela, que ninguém imitava. Raquel já veio aqui em casa fazer trabalho, conversava com minha mãe, falava desinibida. Era engraçada e me fazia rir, e dividia comigo um sonho para o futuro: fazer faculdade de Jornalismo.

No último ano do Ensino Médio, uma decisão minha nos separou: decidi mudar de turma. Raquel ficou triste, outras pessoas também, mas ela chorou. "Quem vai estudar Português comigo, quem vai me ensinar?", e eu respondia "Não chore, eu ainda posso tirar suas dúvidas, não chore, não chore".

Raquel deixou hoje uma legião de amigos, de sonhos e vontades. Em mim, deixou as risadas, o humor, os sonhos compartilhados e as anotações nos livros que devem estar por aqui em algum lugar. Nesses detalhes que ela deixou e nas memórias que imprimiu, Raquel continua viva, crescendo para sempre.

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