quarta-feira, setembro 02, 2009

O acaso existe

O que há de brilhante na obra deste homem é não só ter elaborado uma teoria sobre a mais fundamental e básica faculdade humana - o pensamento -, mas ter dado, a todos os que conhecem seus escritos, a oportunidade de encarar algo que poucos querem encarar: o acaso. O que Charles Peirce nos ensina em sua semiótica - a ciência geral dos signos - é que não podemos escapar do acaso; que ele, como signo, é bruto e físico, e responsável pelo começo de uma cadeia que é o próprio pensamento. Ele nos mostra que estamos sujeitos a todo tipo de eventualidade, e que ela nos leva a outros lugares.

Que não há conhecimento certo ou seguro, e que este deve ser analisado à luz dos fatos externos. Que é só tropeçando na eventualidade do real que experimentamos algo distinto de nossas expectativas. Que não podemos escapar à presença invariável da mudança. Que o homem, como signo, é um processo; não pode ter um sentido em si mesmo, isolado, pronto, se não estiver dirigido a outro signo; não se pode precisar seu começo ou seu fim, não pode estar "acabado", não pode ter uma história escrita nos Livros, no céu ou nas estrelas, não está destinado a ir a lugar algum. O que Peirce arremessa diante de nós é a dura verdade de que as coisas nos escapam, de que podemos ser extremamente falíveis. Ele nos põe diante da indeterminação, da incerteza, e do provisório.

Talvez por isso ele tenha sido tão incompreendido - e, também, impopular.

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