sexta-feira, setembro 25, 2009

Barulho de água

A lanchonete era velha, e havia ali muitos sinais que indicavam isso: a cerâmica anos 60, os copos americanos de vidro, as garrafas retornáveis, a televisão velha, os cabelos no ralo da pia e as manchas de gordura no teto acima dela, grandes manchas amareladas que iam grudando, grudando e já eram testemunhas vivas da história.

A lanchonete fazia-se ouvir bem de longe, e talvez aí encontravam-se os indícios mais óbvios do seu envelhecimento. Bastava ligar uma torneira ali dentro e um barulho de sucção vinha subindo pelos canos, chamando pela água; o ruído ia crescendo e crescendo, assomando como o suspiro, ou melhor, o grito, dos fantasmas das pessoas que já haviam pisado ali. Demorava até a água chegar, e, quando chegava, era com estremecimento e alarde. Fazia as paredes estremecerem, o chão, as estantes, os copos, os talheres, as pessoas, era uma loucura que obrigava a torneira ser desligada logo depois, só dava tempo de enxaguar um copo. E aí era preciso abrir a torneira de novo e ouvir os gritos de novo, e depois estremecer, fazendo a gente longe dali olhar para trás.

Um comentário:

chuchu disse...

sem dúvida a lanchonete da bce.