sábado, junho 06, 2009

Rodada de negócios, quem curte?

Nada mais perigoso e sexual que uma rodada de negócios entre empresas. Geralmente acontece no prédio mais afastado, cercado por um mato alto onde se escondem coisas que é melhor deixar pra lá. A infra-estrutura é impecável, o auditório tem um ar-condicionado que simula o inverno da Sibéria, os banheiros são limpos, modernos, ecológicos etc. A simpatia dos funcionários atrai os convidados sempre para o interior mais profundo daquele prédio, longe do estacionamento amarelado e dos carros com faróis ligados, que desligam à menor das observações.

É nesse ambiente perfumado, climatizado e socialmente desconectado da realidade dura deste país lusófono de dimensões continentais que acontecem as parcerias, os diálogos e, o pior, os elogios tão descarados. A coisa começa quando a coordenadora faz a social com os mais chegados, abraça e beija e inaugura o coquetel (refrigerante, suco fit de uva, pão-de-queijo, quiche de queijo, bolo de queijo, e sanduíche de frango, coxinha de frango e pastel de frango, frango e frango com frango).

Enquanto os presidentes de cada empresa se revezam numa dança louca das cadeiras, os outros integrantes se distribuem ao redor da mesa, em grupinhos primeiro herméticos, mas que depois vão recebendo um elemento externo aqui e ali, e a paquera está armada. As frases mais recorrentes são Oi, tudo bem?, o que vocês fazem?, sua empresa é o máximo!, vamos fazer uma parceria, toma aqui o meu cartão, qual é o seu telefone mesmo?, ah, eu funciono melhor por email - a partir daí, basta pouquíssimo pra as mãos deslizarem para os quadris, puxarem a calça com violência e corpos se arremesando contra as paredes.

Mas não. O que se vê é uma série de tiques nervosos, hormônios caindo e subindo, perfumes nauseantes se misturando no ar e olhos percorrendo lá e aqui, indo e voltando. Com a mente nos negócios, fica difícil divisar, entre tanto terno, tanta roupa, tanto tecido, os corpos tão desejados. O olho afinal precisa atravessar paletós, gravatas e camisetas para enfim chegar às formas tão desejadas, as gotas de suor deslizando pelos peitos e chegando aos cintos, porque lá sim residem os grandes sucessos.

Até que se desvelem todos os segredos, demora tempo e álcool no sangue dessa gente que gosta de estar gerindo pessoas. Durante este intervalo em que nada acontece, os olhos e as intenções vão dos rostos aos colarinhos e por aí param.

3 comentários:

Unknown disse...

Vc foi de terno? nhami...

ana rita disse...

descrição mais perfeita é impossível, não escapando nem mesmo o carro de faróis furtivos

I.P. Araújo disse...

tá vendo que é sempre bom dar uma olhada nos mais antigos? ;-)

você descreve bem que é dá gosto. tudo direitinho, verosimilhancíssimo (???).