
Acordou cedo aquele dia e examinou o rosto fundo e embaçado no espelho; sua miopia devia ter saltado uns 5 graus, mal enxergava. De repente soube divisar algo parecido com uma porta na superfície daquele vidro que sempre o andara observando. Sim, uma porta escura cuja profundidade sinistra prolongava-se para o além. Pensou se deveria continuar olhando aquele filme que lhe projetavam por ali. Sim, por que não?, um filme é totalmente seguro e o espectador sabe que nada vai acontecer com ele, porque é só uma representação. Ademais já tinha 20 anos, em breve seriam 22, depois 25, e ele seria um adulto, e viajar na maionese, nunca mais; sete, quatorze, vinte e um. Tinha um gosto estranho na boca que sem dúvida era da sopa do dia anterior, mas não saberia precisar se era do sal, do alho, da pimenta ou do gengibre. A porta agora mostrava um universo paralelo, um país das maravilhas, talvez?... O gengibre era como mandrágora e a pimenta era docinha, docinha. Olhando-se naquele espelho, naquele banheiro frio, sentia-se duro e solitário tanto quanto vai se sentir a última barata na Terra, depois da Terceira Guerra Mundial. Não mais quis hesitar, montou na pia belíssima de granito rosado e atravessou, como as personagens clássicas, que, nas histórias clássicas, simplesmente atravessam.
dica da semana: o novo CD da Carla Bruni é legalzinho, mas começo a escutar e lembro que as músicas podem ter sido inspiradas no Sarcozy, e de repente fica tão nojento.
2 comentários:
ah, deus. ainda estou esperando por uma porta dessas no espelho do meu banheiro.
Poxa, pegou pesado. Sarcozy destrói qualquer clima.
Esse aí sou eu, só pode!
E eu nunca penso no Sarcozy.
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