
Vivia no mundo da lua. Da última vez que viu o barman despejar quilos de açúcar na bebida, imaginou a Morte deslizando lentamente as escadarias apertadas, como uma doença que corrói os ossos, tentando um disfarce cômico debaixo de um chapéu rosa-choque de muito mau gosto. A Morte é inconfundível, e seria em vão. Depois esqueceria a Ominosa na pista de dança, onde a fumaça de muitos odores convidava a uma viagem para lá de Bagdá. Quando a mulher gorda aproximava-se, dançado despudoradamente, avisava ao desconhecido mais próximo que a Morte havia chegado, e o aviso era entendido como um "oi, tá a fim?" (a estas alturas, qualquer palavra é compreendida com altíssimo teor sexual). Saía correndo, para refugiar-se nos substratos mais profundos da consciência (esta parte acontecia no sofá, ou no banheiro infecto e imundo, mas só em casos mais graves, e apenas se a noite estivesse para Castro Alves). O estofado do sofá era muito macio, muito mesmo, incrivelmente, e convidava a uns amassos indecentes, apesar do cheiro de mandioca puba que exalava. Mas acostumava-se, a gente se acostuma a cada coisa.
À saída, enfim, com a cabeça mais nas nuves do que nunca, dizia para a última menina da festa que "moça, seus peitos estão pra fora", mas era míope e nunca viria a descobrir que os peitos eram uma estampa meio árcade, meio barroca, da camiseta (são os barrocos que gostam dessas coisas espiraladas e redondas, esses rococós que parecem peitos, na cabeça dos míopes). Vivia no mundo da lua, era o que eu estava dizendo. Mas assim era bom.
À saída, enfim, com a cabeça mais nas nuves do que nunca, dizia para a última menina da festa que "moça, seus peitos estão pra fora", mas era míope e nunca viria a descobrir que os peitos eram uma estampa meio árcade, meio barroca, da camiseta (são os barrocos que gostam dessas coisas espiraladas e redondas, esses rococós que parecem peitos, na cabeça dos míopes). Vivia no mundo da lua, era o que eu estava dizendo. Mas assim era bom.