Já fiz fotografias de muitas gentes. Gente dormindo no chão, gente morando a 40km de Brasília, no meio do mato e dos bichos, gente no interior do Goiás, gente trabalhando em museu... mas foi aquela senhora da rodoviária, no meio de toda aquela gente, que me ensinou a agradecer. Ivanilde vem de Luziânia todo dia, e recolhe esmola ao lado do Conjunto Nacional enquanto o marido toca sanfona. Os rendimentos são poucos e valem, quando valem, um almoço modesto: arroz com feijão. Mesmo passando horas sob o sol, com a proteção de um guarda-chuva, o casal não sabe quanto dinheiro terá para gastar com comida.
Por intermédio da lente, eu vi os olhos marejados de Ivanilde, vi o sorriso simpático atrás das rugas, vi os cílios e as sobrancelhas, as marcas de sol, as imperfeições nas roupas, e as perfeições também, e antes que eu chorasse ali mesmo, tentei encontrar um enquadramento que fizesse jus à leveza daquela mulher.
Ivanilde ganhou uma salada de fruta no fim da entrevista, ergueu o copo para o céu e agradeceu, novamente emocionada. Eu é que agradeço, e tomara que mais gente passe por você.
(e o engraçado é que esses US$700 bilhões não estavam guardados para ajudar as pessoas, mas sim os bancos; não para salvar as vítimas, mas para absolver os culpados)
crédito da foto: eu mesmo!
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Gо thrоugh Frее Bооk...
Há 3 anos
3 comentários:
Muito bem escrito, pra variar.
(Quanto ao sentimentos, estes estão acima de qualquer palavra que eu pudesse escrever).
Ficou leve a foto, Flávio... Um céu, um pouco de natureza, os olhos sonhadores de Ivanilde e, ao mesmo tempo, a dureza do asfalto, o chão que não nos deixa voar...
O último parágrafo foi o melhor do texto!
Beijos!
céu???
enfim, foto fodona.
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